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Rua Onze . Blog

Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Autógrafos - Urbano Tavares Rodrigues

blogdaruanove, 18.02.09

 

 

Urbano Tavares Rodrigues (n. 1923), Desta Água Beberei (1979).

 

 

Assumindo-se desde sempre como um escritor cuja obra reflecte a sua ideologia de esquerda, no início da sua produção ficcional Urbano Tavares Rodrigues assumiu também parte da herança neo-realista . De entre os inúmeros romances produzidos até hoje, Bastardos do Sol (1959) será certamente um dos mais conhecidos.

 

No campo do ensaio, por entre a diversidade temática da sua escrita, sobressai uma especial atenção dedicada à obra de Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), particularmente através dos ensaios Manuel Teixeira Gomes: Introdução ao Estudo da sua Obra (1950) e Manuel Teixeira-Gomes: O Discurso do Desejo (1984).

 

A temática da sua produção ficcional oscila com frequência entre as experiências urbanas e as experiências rurais das suas personagens, como acontece em Desta Água Beberei.

 

Desenvolvendo-se em curtos capítulos, de uma forma quase fragmentária, este romance apresenta um enredo cuja acção decorre em 1976 e 1977 e retrata o período de transição pós-revolucionária. A narrativa cruza aspectos próximos da crónica, do diário e do registo epistolar, orientando-se pela verosimilhança da contextualização histórica e pelo constante recurso à evocação de personagens reais, da política, da literatura e de diversas outras áreas, e de acontecimentos reais como forma de inserir a História na história.

 

Exemplos disto mesmo, o discurso narrativo e os diálogos das personagens desenvolvem-se através da recorrente insistência a siglas vulgarizadas durante o PREC (Período Revolucionário em Curso...), entre as quais algumas já esquecidas pelas subsequentes gerações e entretanto caídas em desuso – CAP, CIA, CDS, CGTP, CRRA, FMI, IARN, IRA, MAP, MFA, MES, PIDE, PPD, PS, RALIS, UCP, UEDS, URAP...

 

Reflectindo um certo desencanto pós-revolucionário, que vai degenerando numa atitude "Português Suave" de algumas personagens, a sensação fragmentária da narrativa reflecte também a consciência da impossibilidade de materializar uma revolução em termos utópicos.

 

 

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