In Memoriam
AOS SOLDADOS MORTOS
"E estes de que falo são os que acabarão na India os mais dos feitos que nella se cometerão".
Diogo de Couto – Decada VII, Liv. decimo.
Meu soldadinho do C.E.P.,
Tu foste à guerra, meu Zé Povinho,
Tu foste à guerra sem saber porquê.
Chegaste triste como gado à feira.
E espavoridamente,
Entanguido no lôdo da trincheira,
Ante teus olhos doces de boisinho
Abriu-se o matadoiro de repente...
Retroava a noite, uivava, estremecia a terra,
Um imenso clarão trovejava, um rasgar
Contínuo de trovões... Era a guerra, era a guerra,
A visão infernal do mundo a desabar,
A terrível visão!...
E resignadamente,
Meu Dom Sebastião!
Aceitaste morrer, e morrer devagar.
Cemitério de Ambleteuse, Dezembro de 1918.
in Alberto Osório de Castro (1868-1946), O Sinal da Sombra (1923).
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