Correspondência de Wenceslau de Moraes (VI)
Capa da terceira edição de Dai Nippon (1972), com prólogo de Martins Janeira (1914-1988).
"Lembro-me bem que tenho recebido cartas tuas ultimamente, e tambem do menino Antonio, o que tudo muito agradeço.
Mas a vida desordenada que levo ha mais de um anno, e que talvez se prolongue ainda nem eu sei por quanto tempo, obriga-me a mal cumprir os meus deveres de amizade, não respondendo ou respondendo mal ás cartas que recebo, e isto por excesso de trabalho, ou má disposição, ou fadiga de espirito, farto de tantos trambulhões da sorte.
(...)
Sabes que appareceu (dizem-me de Lisboa que em 10 de Julho) um livreco meu? Escrevi á Chica para te dar um dos exemplares que ella receba para mim; vamos a ver como isso se arranja, pois receio mesmo que não me enviem ou á Chica alguns exemplares do tal "Dai-Nippon", que pelo nome não perca. Tive a mania de ser escriptor; resultado da minha vida isolada, de bicho bizonho."
Excertos de uma carta endereçada a sua irmã Emília Regina Perpétua de Moraes (?-1905), enviada de Kobe e datada de 17 de Agosto de 1897.
Página de rosto de um exemplar da segunda edição de Dai Nippon que pertenceu ao professor, químico e escritor António Herculano de Carvalho (1899-1986).
Sobre a publicação desta segunda edição, anotou Martins Janeira, no primeiro parágrafo do prólogo à terceira edição:
"Dai Nippon, o 'Grande Japão', foi escrito em 1895 e publicado dois anos depois pela Imprensa Nacional; a segunda edição é feita pela Seara Nova, em 1923, por iniciativa de Vicente Almeida d' Eça [1852-1929] e contra o desejo expresso por Moraes. Este, por causa dos erros tipográficos que o exasperaram, comenta em carta: 'a 2.ª edição do Dai Nippon é uma porquíssima aventura'. Em seguida cortou relações com o prefaciador, apesar de ele ser um dos três da 'Trindade Benevolente' a quem dedicara O Culto do Chá."
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