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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

Correspondência de Wenceslau de Moraes (XV)

blogdaruanove, 21.07.09

 

"Recebi a tua bondosa carta de 12 de Fevereiro, tranquilizando-me, pelo que respeita á Familia, a respeito dos ultimos acontecimentos politicos, que tão mal acabaram. Bom foi que tudo corresse sem novidade para todos que me interessam.

 

Quanto a politica, não me espantou o que se deu: foi o resultado da desorganização, cegueira, incuria, vilania, etc., a que chegáramos. É possivel que o paiz tome agora juizo (a licção foi de mestre); mas duvido. E ponhamos ponto n'este assumpto pouco divertido."

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 23 de Março de 1908.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (XIV)

blogdaruanove, 20.07.09

 

" A respeito de americanos e japonezes e do que tu me dizes a tal respeito, creio bem que não haverá guerra. Nem aos japonezes conviria fazer guerra agora, pois saltariam todos os brancos contra elles. Que não ha nada que se compare com a coragem e valor dos militares japonezes, isso é verdade.

 

(...)

 

Dize ao dr. Rodrigues que ainda não recebi os cinco exemplares dos 'Serões' com o 'Mankamero' e os outros cinco exemplares com 'Uji – A terra do chá'. Elle ha-de rir-se da minha insistencia, mas não faz mal, porque é bom amigo."

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 27 de Fevereiro de 1907.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (XIII)

blogdaruanove, 17.07.09

 

"Obrigado pelo impresso que me mandas sobre o Jiujitsu; é preciso dar o devido desconto ao que o homem diz; assim, elle assegura que a tuberculose é quasi desconhecida no Japão, quando pelo contrario ella é aqui bem frequente; em todo o caso, esta arte de lucta é admiravel.

 

Pedes-me sellos das colonias. Fica sabendo que só de Macau recebo com regularidade alguns; das outras colonias é rarissimo que aqui me cheguem. Vão juntos uns poucos, para contentar em parte os teus desejos.

 

Gostaste do meu livro "Paizagens"? e do conto que especialmente te dediquei?"

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 4 de Outubro de 1906.

 

 

Frontispício da primeira edição de Paisagens da China e do Japão (1906), tendo a segunda edição sido já publicada postumamente, em 1938 (cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/140710.html). A segunda edição reproduz integralmente os desenhos e fotografias da primeira, mas apresenta menos quatro páginas. Note-se a discrepância entre a ortografia de Wenceslau de Moares e a ortografia do título, nas duas edições.

 

O conto dedicado a seu sobrinho intitula-se O Pescador Urashima, tendo sido escrito em 1900. Trata-se do último conto da colectânea, embora alguns exemplares da primeira edição apresentem um caderno trocado e este surja parcialmente intercalado entre as páginas 176 e 177, mas com a correcta numeração de páginas, 229-238.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (XII)

blogdaruanove, 16.07.09

 

" [continuação] Alegro-me em saber que o Dr. Peres Rodrigues e sua Esposa os visitaram, brindando-te com um grande aquario. Eu tenho o Dr. Rodrigues por um homem altamente superior; Portugal inteiro talvez não tenha cem individuos que o egualem; tu e tua irmã são ainad muito novos para o comprehenderem completamente, só bem tarde talvez o possam apreciar como elle merece. No entretanto, devem estimal-o muito, como parente, como um amigo; abrirem-lhe o seu coração, não terem o menor segredo para elle; e finalmente seguirem todos os seus conselhos, pois só n'elle encontrarão guia seguro contra as grandes difficuldades da vida. O Eça [Vicente Almeida d' Eça (1852-1929), cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/107350.html] é outra joia; lembra-te sempre que foi elle que te iniciou na vida de trabalho. Faze por merecer a sua estima.

 

Fallemos do aquario, que dizes vaes povoar. A quadra não é muito boa; a melhor é a primavera e verão. No meu I.º volume das "Cartas" encontrarás, á falta de melhor, alguns conselhos para o caso; mas deve haver livrinhos interessantes, em francês, sobre o assumpto; no meu tempo, já os havia. Eu fiz interessantes colheitas na ribeira de Alcantara, que ja não existe. Procura as ribeiras, os charcos, as fontes; e ahi encontrarás bonitas plantas e animaes; a experiencia, que é o grande meste, te ensinará o resto."

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 18 de Outubro de 1905.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (XI)

blogdaruanove, 15.07.09

 

" [continuação] Perguntas-me se é verdade tudo que o Dr. C. B. diz sobre o Japão. Devolvo-te o artigo, para comparares com as minhas informações. Ha muita verdade, mas tambem ha muita mentira.

 

Durante a guerra, o serviço medico japonez mostrou-se magnifico. A hygiene japoneza é soberba. A cremação dos mortos, geral, deve ser de excellente effeito. Para se imaginar o que vale a hygiene japoneza, basta pensar nos horrores da peste na China, na India e n'outros pontos, durante estes ultimos annos; pois o flagello tem sido introduzido por varias vezes no Japão, em virtude das suas relações commerciaes com a China e a India, mas nunca tem conseguido enraizar, limitando-se as victimas a um infimo numero!... O japonez vive muito ao ar livre, mas de noite fecha em geral as suas janellas. O japonez é vegetariano, mas não por systema; come tambem muito peixe e mariscos; não gosta muito de carne de vacca, mas nas grandes povoações já a come; nas localidades do interior não usa d'ella. A tal comida do homem do campo, composta de tomates, pepinos e saladas, é pêta; o japonez não come tomates, mas beringelas, pepinos, espinafres, nabos, feijão, ervilhas, favas, etc. A alimentação do pobre consta geralmente de arroz cosido sem sal, salmoira de nabos e uma chavena de agua morna. O japonez nunca bebe chá com leite, mas só chá, sem assucar, alguma cerveja e o vinho indigena, saké; quasi nunca bebe agua. Toda a gente toma banho, e frequentemente; o banho é muito quente, e depois d'elle muitas pessoas lavama a cabeça com agua fria; a grande maioria da população, naturalmente pouco abastada, usa dos banhos publicos, pagando menos de 10 reis por cada banho. Eis o que me occorre dizer-te sobre o artigo em questão. [continua] "

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 18 de Outubro de 1905.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (X)

blogdaruanove, 14.07.09

 

"Acabo de receber a tua carta de 11 de Setembro, a primeira que me annuncia a chegada a Lisboa dos primeiros volumes do "Culto do Chá". Obrigado pelas amáveis expressões. Agradeço também a remessa de alguns artigos de jornaes a proposito do Japão, dos quaes apenas já lêra um.

 

Sobre a tua pergunta a proposito da gravura colorida japoneza, direi antes de tudo que os especimens que o meu livrinho te apresenta são dos mais ordinarios, isto por motivos de economia e tambem pela difficuldade em que me via de saber dirigir-me aos bons mestres. Nada do que vês é aguarella; é pura gravura, executada por processos primitivos, muito lentos, mas admiraveis de tons, por exemplo os esbatimentos. Nas minhas gravuras, os contornos foram impressos por meio de pedra lythographica, empregando só a côr negra; e as côres foram dadas por meio de gravuras em madeira, empregando-se uma chapa para cada côr. Quanto mais côres tem o desenho, mais caro sahe; um desenho com 5 côres, por exemplo, exige a pedra lythographica para os contornos e 5 chapas de madeira!... É este o processo geral da gravura japoneza. [continua] "

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (?-1905), enviada de Kobe e datada de 18 de Outubro de 1905.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (IX)

blogdaruanove, 13.07.09

 

 

"Recebi hoje uma carta sem data, tua. Respondo. Não repares em não ser o papel tarjado de preto. Não tenho aqui outro á  mão; o luto, pela nossa querida e pobre doente [Emília Regina, sua irmã e mãe de Joaquim Adriano], tenho-o no coração.

 

Hoje mesmo te mandei um telegramma, escripto em francez por não admittir o governo japonez, durante a guerra, que os telegrammas particulares sejam expedidos n'outra lingua que não seja o francez ou inglez. O telegramma foi assim: "Approuve tes vues. Wenceslau". Creio que o receberás sem inconveniente algum."

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 8 de Maio de 1905.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (VIII)

blogdaruanove, 10.07.09

 

 

"Não penses em guerra, os russos não me cortarão a cabeça, nem tão pouco os japonezes. Estimarei muito saber as noticias tuas que me promettes, mas não marques prazo; venham quando calhar, e quando te sentires em disposição para tal. E olha, não escrevas sempre cartas, que dão mais trabalho do que os bilhetes postaes; eu mesmo desejo possuir tres bilhetes postaes illustrados, escriptos um por ti, outro pela Maria [sobrinha Maria Luísa de Moraes Costa] e outro pelo Joaquim [sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa], enviados para cá pelo correio, isto para a minha collecção de bilhetes postaes illustrados, começada ha pouco tempo; indico-te pois um meio facil de me darem noticias."

 

Excerto de uma carta endereçada a sua irmã Emília Regina Perpétua de Moraes (?-1905), enviada de Kobe e datada de 24 de Junho de 1904.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (VII)

blogdaruanove, 09.07.09

 

"Vou agora fazer-te dois pedidos, e se quiseres desempenhar-te d'elles, bom será: mas ficarão á tua unica responsabilidade, não á de tua mãe, que, coitada, pelas suas occupações caseiras, não terá facilidade de desempenhar-se délles a meu contento. Um, é comprares-me o livro de João de Deus do qual te envio o annuncio, e mandares-m'o para aqui pelo correio. Outro, mais complicado, é indagares no escriptorio do "Diario Popular" quando termina a assignatura que ahi mandei fazer por um anno; toma nota da data, e não digas mais nada aos homens; mas, quando fôr occasião, isto é no dia em que acabar a minha assignatura, toma uma assignatura em teu nome, por 6 mezes se fôr possivel, lê os jornaes se gostas, e manda-me todas as semanas um pacote d'elles pelo correio, com uma boa cinta de papel e amarrados depois, mas não registados."

 

Excerto de uma carta endereçada a seu sobrinho Joaquim Adriano de Moraes Costa (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 29 de Novembro de 1900.

 

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Correspondência de Wenceslau de Moraes (VI)

blogdaruanove, 08.07.09

Capa da terceira edição de Dai Nippon (1972), com prólogo de Martins Janeira (1914-1988).

 

"Lembro-me bem que tenho recebido cartas tuas ultimamente, e tambem do menino Antonio, o que tudo muito agradeço.

 

Mas a vida desordenada que levo ha mais de um anno, e que talvez se prolongue ainda nem eu sei por quanto tempo, obriga-me a mal cumprir os meus deveres de amizade, não respondendo ou respondendo mal ás cartas que recebo, e isto por excesso de trabalho, ou má disposição, ou fadiga de espirito, farto de tantos trambulhões da sorte.

 

(...)

 

Sabes que appareceu (dizem-me de Lisboa que em 10 de Julho) um livreco meu? Escrevi á Chica para te dar um dos exemplares que ella receba para mim; vamos a ver como isso se arranja, pois receio mesmo que não me enviem ou á Chica alguns exemplares do tal "Dai-Nippon", que pelo nome não perca. Tive a mania de ser escriptor; resultado da minha vida isolada, de bicho bizonho."

 

Excertos de uma carta endereçada a sua irmã Emília Regina Perpétua de Moraes (?-1905), enviada de Kobe e datada de 17 de Agosto de 1897.

 

 

Página de rosto de um exemplar da segunda edição de Dai Nippon que pertenceu ao professor, químico e escritor António Herculano de Carvalho (1899-1986).

 

Sobre a publicação desta segunda edição, anotou Martins Janeira, no primeiro parágrafo do prólogo à terceira edição:

 

"Dai Nippon, o 'Grande Japão', foi escrito em 1895 e publicado dois anos depois pela Imprensa Nacional; a segunda edição é feita pela Seara Nova, em 1923, por iniciativa de Vicente Almeida d' Eça [1852-1929] e contra o desejo expresso por Moraes. Este, por causa dos erros tipográficos que o exasperaram, comenta em carta: 'a 2.ª edição do Dai Nippon é uma porquíssima aventura'. Em seguida cortou relações com o prefaciador, apesar de ele ser um dos três da 'Trindade Benevolente' a quem dedicara O Culto do Chá." 

 

 

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