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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

Sarreguemines (III)

blogdaruanove, 10.08.09

 

Entre as decorações de vidrado microcristalisno desenvolvidas pela fábrica Sarreguemines durante o final do século XIX, encontravam-se diversas variantes de azul e verde, duas das quais aqui ilustradas, que representavam um corte radical com os vidrados monocromáticos de tons conservadores, como o "Rose Pompadour" e o "Sang-deBoeuf".

 

Demonstrando um aperfeiçoamento do tratamento químico dos vidrados, este acabamento microcristalino e as miríades de tonalidades daí resultantes  traduzem-se numa iridisação das superfícies decorativas que também foi comum à vidraria artística da época, como se pode observar na famosa produção da fábrica europeia Loetz e nas peças Favrile desenvolvidas nos E.U.A. por Louis Comfort Tiffanny (1848-1933).

 

A iridisação verde de cobre patente na peça ilustrada revela-se ainda particularmente contemporânea, pois evoca o verde do absinto novo, bebida em voga entre intelectuais e artistas no final do século XIX, e posteriormente proibida em França, e as suas propriedades alucinogéneas.

 

 

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Autógrafos - Ribeiro Couto

blogdaruanove, 05.08.09

 

Ribeiro Couto (Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto, 1898-1963), Présence de la Petite Thérèse (1937; tradução do ensaio Presença de Santa Teresinha, 1934)

 

 

Ribeiro Couto notabilizou-se enquanto jornalista, ensaísta, contista e poeta, tendo contado com Manuel Bandeira (1886-1968) como um dos seus grandes amigos e companheiros literários.

 

Exercendo actividade diplomática em França a partir de 1928, data em que o presente ensaio começou a ser escrito (uma nota biográfica da Fundação Casa de Rui Barbosa [http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/literatura/ribeiro_couto/biografia.htm] refere que Ribeiro Couto foi nomeado para o Consulado de Marselha em Julho de 1929, mas o próprio autor, nesta obra, regista a sua estadia em França a partir de 1928), veio para Portugal entre 1944 e 1946, como encarregado de negócios do Brasil.

 

Esta estadia permitiu-lhe desenvolver estreitos laços com inúmeros escritores e intelectuais portugueses, entre os quais Miguel Torga, bem como aprofundar a ligação ao país, de onde sua mãe era originária.

 

As suas obras mais consagradas serão, provavelmente, o romance Cabocla (1931), que deu origem às telenovelas homónimas de 1979 e 2004, e o livro de poesia, escrito em francês, Le Jour est Long (1958), pelo qual recebeu em França o prémio internacional de poesia para estrangeiros.

 

Neste opúsculo, Ribeiro Couto, para além de construir uma narrativa e uma visão biográfica de Santa Teresinha do Menino Jesus (Thérèse de Lisieux, 1873-1897), apresenta-nos ainda pequenas notas sobre o itinerário por si percorrido em França – Le Havre, Harfleur, Lillebonne, Villequier, Caudebec, Saint-Nicolas de Bliquetuit, Forêt de Brotonne, Pont-Audemer, Pont-l'Évêque – até chegar a Lisieux.

 

 

Destas notas, trancrevem-se os cinco parágrafos dedicados a Le Havre:

 

"Ciel gris, calfeutré d'étoupes. Dans la rue de Bordeaux, les bruits de la cité qui s'éveille paraissant amortis par l'air humide. La fleuriste de la place Gambetta est blonde et forte: son geste, haussant devant moi un chysanthème rouge, est celui d'une combattante de barricade présentant avec énergie l'étendard révolutionnaire. Je lui tends un billet de cinq francs, et je m'en vais, le chrysanthème au poing, souriant avec sympathie pour justifier cette largesse.

 

Je me proméne au long des quais. dans le bassin du Commerce il y a des yatchs blancs, des canots automobiles et des voiliers d'agrément. C'est le quartier de luxe des eaux du port.

 

Quai Lamblardie, quai Southampton... Senteur complexe des villes maritimes de trafic intense: parfum d'oranges, souffle de goudron, relents de moisi mêlés à la puanteur des fermentations inconnues, camaraderie aérienne de bonnes et de mauvaises odeurs.

 

Aux grandes darses et aux long des môles, des navires dévorent des fardeaux, dans le fracas des grues mobiles. Tous les océans ont arrosé ces tillacs de leurs vagues; ces proues ont fendu la bourrasque sos toutes les latitudes.

 

Des murailles de pierre, dans les eaux troubles, envahissent l'estuaire et se perdent, fines et longues, sous la brume de l'océan, avec des phares à chaque pointe. Elles reçoivent les premières confidences des vents du large."

 

Uma Noite de Chuva e Outros Contos (1944), com capa de Paulo Ferreira (Paolo, 1911-1999) e ilustrações de António Dacosta (1914-1990). Este volume recolhe contos anteriormente publicados em A Casa do Gato Cinzento (1921), Baïaninha e Outras Mulheres (1927) e Largo da Matriz (1940), apresentando pela primeira vez em livro o conto Milagre de Natal, que em 1941 havia sido publicado na revista mensal Ilustração Brasileira.

 

No seu Diário III (1946), Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Rocha, 1907-1995) regista a seguinte anotação sobre Ribeiro Couto:

 

" Conimbriga, 13 de Junho [de 1944] – Outra visita a estas pedras queimadas pelos Suevos. Desta vez, porque estava na companhia de um brasileiro ilustre, o Ribeiro Couto, dispus-me a ouvir o cicerone, e aprendi finalmente que foram os Suevos que estragaram o arranjinho aos  romanos que gozavam isto.

 

E já que falo em cicerones, quero confessar-me de um pecado grave: nunca até aqui os tinha amado. Odiava-os mesmo ferozmente. Pareciam-me fonógrafos sem coração, sem cérebro, incapazes de um sentimento qualquer por detrás das maravilhas que mostravam. Mas hoje mudei de ideias. Já aqui há uns tempos, em Mafra, diante de um homem destes, pudico, preciso e sensível, fiquei de nariz no ar. Esta tarde, porém, é que a nuvem se abriu. "

 

Para uma pequena referência bio-bibliográfica à professora Andrée Crabbé Rocha (1917-2003), ver http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/148104.html.

 

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Sarreguemines (II)

blogdaruanove, 20.07.09

 

Na viragem do século XIX para o século XX, a fábrica Sarreguemines produziu alguma cerâmica monocromática, quer com vidrado brilhante simples quer com vidrado brilhante nacarado.

 

Apresentando tons conservadores, como o clássico francês "Rose Pompadour" (acima) ou o clássico chinês "Sang de Boeuf" (abaixo), este com o pormenor do vidrado nacarado, a cerâmica era totalmente inovadora nas formas.

 

Na peça ilustrada acima nota-se um minimalismo que joga com uma forma tradicional, apenas alterada por três reentrâncias no bojo e três bicos repuxados no rebordo. Na peça de baixo preserva-se a forma tradicional de uma cabaça, a que se acrescenta a toda a volta uma modelação que evoca ora os folhos de um vestido sevilhano ora o rendilhado de certas algas.

 

 

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Quimper

blogdaruanove, 29.06.09

 

Fundada em 1699 por Jean-Baptiste Bousquet, em Quimper, França, a fábrica adoptou o nome da localidade, ao qual se vieram a a adicionar, mais tarde, as iniciais HB, conjugando uma inicial do apelido do fundador e uma inicial de um dos posteriores donos, Hubaudière.

 

A fábrica celebrizou-se ao longo dos séculos XVIII e XIX pela decoração de inspiração figurativa e regional nas suas peças de faiança, mas atingiu particular notoriedade com a produção de grés Art Déco, de que a jarra apresentada é um exemplo. Registada em 1922, esta série recebeu a denominação Odetta, tendo-se mantido em produção até 1960.

 

As primeiras peças experimentais Quimper HB Odetta apenas começaram a ser executadas em 1923, mas estiveram já largamente representadas em Paris na Exposition des Arts Décoratifs de 1925, onde obtiveram assinalável êxito. Esta exposição é hoje reconhecida como tendo consagrado não só o estilo como também originado a designação Art Déco, a qual foi adoptada por diversos autores a partir da década de 1960.

 

A produção Odetta iniciou-se em maior escala a partir de Março de 1926, aproveitando algumas vezes anteriores formatos existentes na produção em faiança. Quando coexistiam formas em faiança e grés, como é o caso desta, a peça em grés recebia um "g" inciso na base, uma vez que as temperaturas de cozedura exigidas pelas duas pastas cerâmicas são diferentes.

 

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Sarreguemines (I)

blogdaruanove, 04.05.09

 

Fundada em 1790 e encerrada em 2007, a fábrica de Sarreguemines, em França, construíu ao longo dos séculos XIX e XX uma sólida reputação na área da faiança e da majólica.

 

Durante os finais do século XIX e os princípios do século XX a cerâmica decorada com microcristais atingiu nesta fábrica grande perfeição e notável equilíbrio estético, suplantando a sua já consagrada produção em majólica. 

 

  

Estas características  encontram-se num reduzido número de fábricas francesas, de entre as quais se devem também salientar Denbac (cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/75345.html), Pierrefonds e Sèvres, esta última trabalhando com pasta de porcelana.

 

Poderá consultar alguns outros pormenores sobre Sarreguemines em: http://www.sarreguemines-museum.com/musees/Visite_OnLine/E1/1er_salleC.htm.

 

 

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Arte Déco

blogdaruanove, 02.03.09

Taça em cerâmica, com decoração a esmalte policromado e ouro, produzida na fábrica Longwy, França.

Década de 1920 ou 1930.

 

A designação Art Déco surgiu e consolidou-se ao longo da década de 1960, considerando os historiadores de arte ser a Exposition des Arts Décoratifs de Paris, em 1925, a exposição que consagra a viragem do estilo Arte Nova para o estilo Art Déco, cuja designação resulta precisamente da abreviatura Arts Décoratifs.

 

O estilo Art Déco veio consagrar uma estilização floral que abandonava muita da ostensivamente exagerada curvilinearidade do estilo Arte Nova, em favor de uma estilização que ora geometrizava as flores ora as tornava mais abstractas, tendendo a aumentar as suas dimensões relativas.

 

Como se pode observar nas peças cerâmicas aqui reproduzidas, o estilo não abandonava totalmente as influências orientalizantes, o que se torna mais evidente na peça de Charles Catteau, a qual, para além de evocar  o craquelé típico das antigas peças de cerâmica oriental, também visível na peça de Longwy, evoca ainda, inequivocamente, o glamour do amarelo imperial.

 

Cigarreira em prata, de punção portuguesa, com a seguinte inscrição no interior: "(...) / Oferta da / Ourivesaria da Guia / 1932".

 

O tratamento geometrizante da Arte Nova de Charles R. Mackintosh (1868-1938) e da Wiener Werkstätte veio a ser repensado e depurado através dos mestres e discípulos da Bauhaus, surgindo então peças decorativas que aliavam materiais inovadores, como a baquelite, o alumínio e o ferro cromado, a outros metais e minerais considerados nobres.

 

Pendente em platina, com esmeraldas e brilhantes, de punção portuguesa anterior a 1938.

 

O contributo português para este movimento passou essencialmente pelo modernismo da arquitectura, mas é também visível em várias peças de joalharia que, contudo não deixam de fazer concessão a influências de séculos anteriores.

 

Este aspecto é particularmente visível no lacinho do pendente aqui reproduzido, inserido numa figura que geometriza e evoca claramente uma flor de papiro. Pormenor que poderá remeter para toda a influência decorrente da descoberta do túmulo e das riquezas de Tuthankamon. (Veja-se ilustração de inspiração similar em: http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/15108.html.)

 

Sublinhe-se, contudo, que, a nível internacional, o reconhecimento maior foi atingido pelos escultores Canto da Maia (1890-1981) e João da Silva (1880-1960; cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/85920.html), os quais também viram muitas das suas criações transpostas para cerâmica, bem como pelo arquitecto e designer de interiores, de origem austríaca, Franz Torka (1888-1953), que emigrou para Portugal no final da década de 1920 e colaborou durante vários anos com a Casa Alcobia.

 

 

Jarra em cerâmica, com decoração a esmalte policromado desenhada por Charles Catteau (1880-1966), produzida na fábrica Boch Frères- Keramis, Bélgica. Cerca de 1923.

 

Para mais alguns apontamentos sobre Art Déco, poderá consultar: http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/15977.html e http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/15831.html.

 

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