Reis, Coroas, Alqueires & Moios
De baixo para cima, no sentido dos ponteiros do relógio – quatrocentos reis, de 1790, reinado de D. Maria I (1734-1816; rainha, 1777-1816); dois escudos e cinquenta centavos (dois e quinhentos, cinco coroas, vinte e cinco tostões), de 1944; dez escudos (dez mil reis), de 1932, e dez centavos (um tostão), de 1915.
"Ainda não ouvi falar de escudos em Vizella. No que diz respeito a dinheiro, pelo que observo e pelo que me dizem, o Minho [em 1926] ainda reza pela cartilha monarquica.
– Como vende os figos, tiasinha?
– Seis á corôa.
– Como vende os lenços, menina?
– Oito mil reis a meia duzia.
Da mesma forma que não se fala em escudos, tambêm não se fala em litros, e o kilo ainda não fez esquecer a libra e o arratel.
– Quanto ganha vocemecê n'um dia, a fiar?
– É conforme, meu senhor. Posso ganhar cinco corôas, se fiar uma meada.
– E quanto pesa uma meada?
– Pesa libra e meia.
O lavrador do Alemtejo exprime a sua produção cerealifera em moios; o lavrador do Minho exprime-a em carros. É o carro de pão, milho ou centeio equivalente a quarenta alqueires. Aqui perto fica o solar d'uma senhora muito rica, possuidora de muitas quintas, pessoa de muito bem fazer e que recolhe, uns anos por outros, trezentos e sessenta e cinco carros de pão – tantos carros como dias tem o ano.
Contou-me o barqueiro do passeio á Ilha dos Amores que esta Senhora, aqui ha anos, teve de pleitear nos tribunaes uma questão de paternidade ilegitima, por ter o seu primeiro marido, de colaboração com uma francesa, engendrado um pimpôlho que se habilitou á herança do pai. Muito devota, a Senhora ofereceu cincoenta contos a S. Torquato se tivesse ganho a causa. Ao mesmo tempo constituiu advogados, não por ter menos confiança no Santo, mas porque havia certas diligencias a fazer junto das testemunhas, que não ficaria bem ao santo fazel-as directamente.
– E vocemecê acha que a Senhora ganharia a questão se a tivesse entregado a S. Torquato, dispensando os advogados?
Agóra ganhava! As testemunhas foram dizer ao tribunal o que os advogados lhes tinham ensinado, e foi por isso que a franceza perdeu.
– Mas S. Torquato recebeu os cem contos?
– Pois se a Senhora fez a promessa, havia de cumpril-a."
in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).
Espécime de uma nota de mil escudos (um conto de reis) de Timor, emitida em 1968.
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