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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Homenagem a Jorge de Sena

blogdaruanove, 12.02.09

Capa de Poesia – III, editado em Maio de 1978. Um dos últimos volumes publicados em vida de Jorge de Sena.

 

Jorge de Sena (1919-1978) exilou-se no Brasil em 1959, aí tendo permanecido até 1965. Nesse ano, mudou-se para os E.U.A., fixando inicialmente residência em Madison, Wisconsin, e posteriormente em Santa Bárbara, Califórnia, onde veio a falecer. 

No ano em que se assinalam cinquenta anos do seu exílio e noventa do seu nascimento, anuncia-se a doação do seu espólio à Biblioteca Nacional e a intenção de transferir para Portugal os restos mortais daquele que é, indubitavelmente, um dos mais importantes autores do século XX.

 

Capa de By the Rivers of Babylon and Other Stories (1989), uma compilação e tradução de contos anteriormente publicados em Velhas e Novas Andanças do Demónio (1978).

 

De acordo com esse anúncio, ontem oficialmente reiterado na X edição do Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim, chegou no passado sábado a Lisboa o primeiro de vários contentores que transportarão o espólio doado por Mécia de Sena à Biblioteca Nacional de Portugal.

Este espólio vem-se juntar ao conjunto de manuscritos, e outro material, anteriormente depositado na Fundação Calouste Gulbenkian, o qual virá também a ser transferido para a BNP, de acordo com o desejo expresso pela viúva do escritor.

A doação inclui ainda os manuscritos das obras publicadas postumamente, os inéditos, volumosa correspondência, fotografias e outros documentos, bem como a sua biblioteca particular, contendo centenas de autógrafos e dedicatórias endereçadas a Jorge de Sena.

 

Capa da edição bilingue (póstuma) de Sobre Esta Praia... Oito Meditações à beira do Pacifico (1979), cuja primeira edição em Português foi publicada pela Editorial Inova, em 1977.

 

Pelo simbolismo do momento, reproduz-se um poema de 1961, inicialmente publicado em Peregrinatio ad Loca Infecta (1969) e posteriormente reunido em Poesia – III:

 

"GLOSA DE GUIDO CAVALCANTI

                                                             'Perchi' I' no spero di tornar giammai' 

 

Porque não espero de jamais voltar

à terra em que nasci; porque não espero,

ainda que volte, de encontrá-la pronta

a conhecer-me como agora sei

 

que eu a conheço; porque não espero

sofrer saudades, ou perder a conta

dos dias que vivi sem a lembrar;

porque não espero nada, e morrerei

 

no exílio sempre, mas fiel ao mundo,

já que de outro nenhum morro exilado;

porque não espero, do meu poço fundo,

 

olhar o céu e ver mais que azulado

esse ar que ainda respiro, esse ar imundo

por quantos que me ignoram respirado;

 

porque não espero, espero contentado."

 

Capa, reproduzindo um detalhe do quadro Ar Livre Nu, c. 1915, de Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918), da tradução para Inglês do romance póstumo Sinais de Fogo (1979), publicada pela Carcanet Press em 1999.

 

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