Evocações de Eugénio Tavares (I)
© Fundação Eugénio Tavares
Eugénio Tavares (1867-1930), o célebre poeta de Cabo Verde evocado por Manuel Ferreira em Hora di Bai (http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/16606.html), era já citado em 1928 por Julião Quintinha (1885-1968), na sua obra Africa Misteriosa (pp. 65-66):
"Eugenio Tavares, o poeta da saudade, que eu fui encontrar na sua casinha sossegada, rodeado de flores, é o apaixonado autor das mornas (*) melancólicas que o pôvo do Arquipélago canta, intérprete maravilhoso da alma dêsse pôvo ilhéu e sonhador.
Toda a melancolia e fatalidade marítima, a tristeza da emigração, o encanto aventureiro com desejos de correr mundo e alegrias no regresso ao lar, o lirismo dessa gente ingénua que acende fogueiras quando voltam os emigrantes e lhes vai enfeitar as velas dos navios com rosas - tudo isto palpita nas dolentes páginas literárias de Eugénio Tavares, nos seus versos crioulos que as tristes noivas cantam na hora da partida, e vao repetindo pela vida fóra."
© Fundação Eugénio Tavares
O asterisco remete para uma nota de rodapé na página 65, com o seguinte teor:
" (*) Para o leitor fazer uma ideia do que é uma morna aqui lhe transcrevo esta muito em voga, escrita em crioulo da Brava, pelo punho do seu proprio autor, o grande poeta caboverdeano Eugenio Tavares.
MORNA DA AGUADA
Se é pa 'n vivê na ês mal
De cá tem
Quem que q' rem,
Ma 'n q' rê morrê sem luz
Na nha cruz,
Na ês dôr
De dâ nha vida
Na martirio de amor.
Amá, sê pa 'n morrê
Pa 'n dixâ
Ai, quem que 'n q' rê,
Pa ôto gente, bem q' rê
Ma 'n q' rê vivê na ês martirio.
Se é pa ês tristeza de q' rê
Sem esperança,
Ai, sem fé,
Ma 'n q' rê ês destino de bai,
De morrê,
De squicê,
Num momento de amor,
Um vida intero de dôr.
EUGENIO TAVARES"
© Fundação Eugénio Tavares
Para mais informações sobre Eugénio Tavares, consultar: http://www.eugeniotavares.org/.
© Rua Onze . Blog