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Rua Onze . Blog

Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

Macau, 1937 (V)

blogdaruanove, 09.02.09

Macau, cerca de 1937.

 

(continuação de http://ilusoesurbanas.blogs.sapo.pt/13730.html)

 

Deitou-se novamente, atravessando-se na cama. A visão familiar da ventoinha alinhada com os seus olhos parecia-lhe agora inquietante. Perplexo com esta impressão contraditória, levantou-se para ligar o interruptor. Alongou-se depois desde a cabeceira até aos pés da cama, de olhos abertos, deixando-se hipnotizar pela monótona sonoridade do motor e pelo movimento quase imperceptível da hélice. Ficou assim durante alguns momentos, alheado de tudo, concentrado apenas naquele zunido circular. Ficou assim, sem pensar em nada.

 

"Em que estás a pensar?", perguntavam-lhe em rapaz, quando o viam alheado. "Em nada", respondia. "Em nada?", perguntavam com expressão de surpresa e desdém, "Como é possível pensar em nada?" E tinham razão. Ao fim de algum tempo acabava sempre por pensar... em algo.

 

Muitas vezes, aquilo em que pensava acabava por ser um rememorar do que não fizera, ou do que não dissera, e deveria ter dito, ou feito. Uma deve e haver desequilibrado, em que sempre ficava a dever ao passado e àquilo que não havia feito, ficando sempre em dívida para consigo mesmo.

 

Voltou a pensar em Boubouka. Teria gostado mesmo dela? Teria ela gostado dele, apesar daquele seu desapego, tão invulgar nas mulheres latinas? Tinham sido um do outro, como se nenhum deles quisesse ser dono do outro. Não tinham havido promessas nem compromissos... Mas então, por que lhe teria ficado aquele sentimento de desamparo e aquela sensação de promessa por cumprir?

 

Parecia-lhe que os movimentos da ventoinha apenas acentuavam a circularidade da sua própria reflexão, cercando-o, imobilizando-o e trazendo-o de volta ao ponto de partida.

 

Fechou os olhos, tentando desistir de ver ou de pensar.

 

"Em que estás a pensar?"

 

"Não estou a pensar, estou apenas a sentir."

 

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Chaves em 1915 (I)

blogdaruanove, 09.02.09

 

1 – CHAVES   Vista parcial

Postal editado pela Casa Geraldes em data desconhecida (provavelmente na década de 1940), com cliché da Foto Alves.

 

"Aparece-nos Chaves, fresca e coquette, a remirar-se no espelho d'aguas mansas que lhe oferece o Tamega, e a sua veiga, cultivada com esmeros de jardinagem, faz-nos lembrar as extensas varzeas do Ribatejo, d'uma productividade que é mais do que abundancia, porque é a riqueza."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

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