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Rua Onze . Blog

Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

Correspondência de Wenceslau de Moraes (XXII)

blogdaruanove, 30.07.09

 

"Dizes que os dois vão indo sem novidades, o que me dá muita satisfação. Dizes mais que nada soffreram com a revolução. Não, não penso que virá outra revolução tão cedo; mas, dentro de algum tempo, é provavel que venha.

 

(...)

 

Ainda a respeito da 'bernarda', devo dizer-te que recebi os jornaes, entretendo-me a lel-os; é claro que recebi o retrato do esposo ha muito tempo, como te informei, e achei-o magnifico.

 

Agora, com respeito á minha vista. estou quasi bom, ma sé preciso tomar cuidado, o que farei.

 

Vejo que tiveste muitas asagaos. É preciso guardar as sementes para o anno novo. Na inclusa carta mando-te mais algumas sementes, que podem muito bem ser differentes das que já ahi tens.

 

(...)

 

P. S. – Como já em tempos te disse, ha varias maneiras de cultivar as asagaos, alem de psotas no chão, subindo ás paredes, trepando por cordas, etc. N'uma caixa, podem-se dispôr uns poucos de pés, e treparem por caniços. Núm pequeno vaso, é bonito pôr um só pé, não deixando desenvolver, cortando os botões quando pequeninos, de modo a obter uma pequena planta. Por este modo, teem-se muito poucas flores, mas nascem muito grandes. De manhan é facil transportar o vaso para sobre a  mesa de jantar, durante as horas do almoço; e horas depois retiral-o para o ar livre, onde passará toda a noite.

 

Vou mandar-te inclusa uma só semente de asagao d'este anno; ignoro a côr. Por experiencia, vê o que dá."

 

Excerto de correspondência endereçada a sua irmã Francisca Adriana Palmira (datas desconhecidas), enviada de Tokushima e datada de 22 de Setembro de 1928.

 

© Rua Onze . Blog 

Correspondência de Wenceslau de Moraes (XXI)

blogdaruanove, 29.07.09

 

"Recebi hoje a tua cartinha de 12 de Dez.º, por signal com uma borboleta que tu apanhaste no campo, creio que em Carriche. Lembra-me isto um ditado japonez, que diz: – Aki no Chôchô, abonai! (borboleta do outomno, toma cuidado!). Com effeito, algumas borboletas vivem até ao outomno; mas tomem cuidado, abonai! qualquer contratempo que sobrevenha, leva-as o diabo; a tua foi morrer nas tuas mãos, que não são precisamente o diabo!...

 

(...)

 

As sementeiras tambem em breve vão chamar a tua attenção para o resurgimento da primavera, que já não vem muito longe. N'uma carta anterior, pedi-te que me mandasses 3 ou 4 sementes de asagao, das pequeninas; o pedido deve chegar-te em breve.

 

Respondendo ao que me contas do systema moderno de distribuição das cartas do correio, concordo comtigo em que é muito atrapalhado, e dará provavelmente causa a extravios, mais do que antes. Esta coisa de estarem sempre a pensar em modas novas!...

 

Não tenho nada que contar-te a meu respeito. Frio e mais frio; esperemos o bom tempo. No entretanto, cuidado e mais cuidado, cuidado sempre, para que não te fiquem más lembranças d'este resto de invernia; o rabo é sempre o peor de esfolar. E que me dizes tu agora da comparação de Nellas com Lisboa? A invernia mais dura, mas já estavas habituada com ella, e a paizagem de Nellas mais encantadora do que em Lisboa. As rans, em Lisboa como em Nellas, por toda a parte a mesma coisa, mas em Lisboa mais difficuldade de as encontrar."

 

Excerto de correspondência endereçada a sua irmã Francisca Adriana Palmira (datas desconhecidas), enviada de Kobe e datada de 14 de Janeiro de 1928.

 

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Japonisme, Chinoiserie & Cie.

blogdaruanove, 12.06.09

 

 

Ilustração de Almada Negreiros (1893-1970), para o texto A "Oiran" de Satsuma, de Luís de Oteyza (1883-1961), publicado na revista Ilustração, n.º 68, 3.º ano, de 16 de Outubro de 1928.

 

Esta imagem surge conjuntamente com duas outras, as quais  vieram a ser posteriormente reproduzidas, com traço vermelho sobre fundo amarelo (cf. http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/104267.html), no Magazine Bertrand n.º 63, ano VI, de Março de 1932, acompanhando o texto O Japão Galante e Heróico, de E. Gomes Carrillo (datas desconhecidas).

 

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Gustavsberg

blogdaruanove, 30.03.09

Jarra decorada por J. Ekberg, com técnica de sgraffito. Assinada e datada (1909).

 

Fundada em 1825, a fábrica sueca Gustavsberg (cuja grafia original era Gustafsberg) tornou-se particularmente célebre entre as décadas de 1930 e 1960 pela sua produção modernista, pela produção de estúdio e pela série Argenta, criada por Wilhelm Kåge (1889-1960).

 

Jarra decorada por J. Ekberg, com técnica de sgraffito. Assinada e datada (1919).

 

No entanto, a fábrica produzira já importantes peças decorativas no século XIX. Durante a última década desse século e as primeiras do século XX foram particularmente notáveis as criações do director artístico Josef Ekberg (1877-1945), que favoreceu a decoração de peças com a técnica de sgraffito.

 

Utilizando como base um corpo cerâmico em faiança branca, essa técnica caracteriza-se pela sobreposição de outras camadas monocromáticas (azuis e, com menor frequência, verdes), em tons claros e escuros,  que depois são trabalhadas e parcialmente retiradas para efectuar a decoração. O vidrado era preferencialmente mate, embora se tenham produzido algumas peças com vidrado brilhante.

 

Taça com decoração de Wilhelm Kåge. Assinada e datada (1928).

 

Seguiu-se um período em que a decoração insistia particularmente no dourado para complementar o próprio formato das peças, mas na década de 1930, quando Wilhelm Kåge já era director artístico, a fábrica passou a favorecer a técnica da série Argenta, desenvolvida pelo próprio Kåge.

 

Esta técnica caracteriza-se pela utilização de uma  base de vidrado mate, preferencialmente verde de cobre mas também vermelho sangue de boi, a que se sobrepõe a decoração efectuada através de uma fina camada de prata.

 

Taça decorada a ouro, desenhada por J. Ekberg. Assinada e datada (1938).

 

A empresa Gustavsberg acabou por ser adquirida em 2000 pela companhia alemã Vileroy & Boch (fundada em 1748), que mantém aquela marca.

 

Pequena taça da série Argenta. Década de 1940 ou 1950.

 

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Evocações de Eugénio Tavares (I)

blogdaruanove, 10.02.09

© Fundação Eugénio Tavares 

 

Eugénio Tavares (1867-1930), o célebre poeta de Cabo Verde evocado por Manuel Ferreira em Hora di Bai (http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/16606.html), era já citado em 1928 por Julião Quintinha (1885-1968), na sua obra Africa Misteriosa (pp. 65-66):

 

"Eugenio Tavares, o poeta da saudade, que eu fui encontrar na sua casinha sossegada, rodeado de flores, é o apaixonado autor das mornas (*) melancólicas que o pôvo do Arquipélago canta, intérprete maravilhoso da alma dêsse pôvo ilhéu e sonhador.

 

Toda a melancolia e fatalidade marítima, a tristeza da emigração, o encanto aventureiro com desejos de correr mundo e alegrias no regresso ao lar, o lirismo dessa gente ingénua que acende fogueiras quando voltam os emigrantes e lhes vai enfeitar as velas dos navios com rosas - tudo isto palpita nas dolentes páginas literárias de Eugénio Tavares, nos seus versos crioulos que as tristes noivas cantam na hora da partida, e vao repetindo pela vida fóra."

 

© Fundação Eugénio Tavares

 

O asterisco remete para uma nota de rodapé na página 65, com o seguinte teor:

 

" (*) Para o leitor fazer uma ideia do que é uma morna aqui lhe transcrevo esta muito em voga, escrita em crioulo da Brava, pelo punho do seu proprio autor, o grande poeta caboverdeano Eugenio Tavares.

 

MORNA DA AGUADA

 

Se é pa 'n vivê na ês mal

De cá tem

Quem que q' rem,

Ma 'n q' rê morrê sem luz

Na nha cruz,

Na ês dôr

De dâ nha vida

Na martirio de amor.

 

Amá, sê pa 'n morrê

Pa 'n dixâ

Ai, quem que 'n q' rê,

Pa ôto gente, bem q' rê

Ma 'n q' rê vivê na ês martirio.

 

Se é pa ês tristeza de q' rê

Sem esperança,

Ai, sem fé,

Ma 'n q' rê ês destino de bai,

 

De morrê,

De squicê,

Num momento de amor,

Um vida intero de dôr.

 

EUGENIO TAVARES"

 

© Fundação Eugénio Tavares

 

Para mais informações sobre Eugénio Tavares, consultar: http://www.eugeniotavares.org/.

 

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