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Rua Onze . Blog

Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

Correspondência de Wenceslau de Moraes (XVII)

blogdaruanove, 23.07.09

 

"Effectivamente, durante uns dias, julguei que o meu caro ia partir com a tal divisão. O que a Chica me dizia em cartas confimava de certo modo as minhas suspeitas; e eu entendia dever dizer-lhe coisas que a levassem a acceitar sem grande alvoroço a triste separação. Mas depois, pelo que os poucos jornaes que leio me foram informando, conclui que a tal famosa divisão não partiria para juntar-se aos alliados e que por isto o meu caro  não partiria tambem, o que agora a sua carta me confirma. Ainda bem que assim é.

 

Tam assustadora como a guerra, ou talvez mais, apresenta-se a  situação politica do paiz, não é assim?... O meu amigo nutre ainda um resto de esperança de "chegue afinal o juizo, de que todos carecemos". Bem bom será que assim seja, mas é muito duvidoso. Em Portugal, a coisa que menos se encontra é o juizo; somos um povo de gente boa, mas degenerada, falta de bom senso. No povo rude das aldeias ainda se encontram muitos elementos aproveitaveis; mas na gente culta, das cidades, a degenerescencia que se nota é uma verdadeira desgraça; degenerescencia que se traduz, entre outros modos, em incompetencias profissionais, em falta de tino pratico, em falta de aptidões para a vida social como ella é em toda a parte. É, pelo menos, a impressão que tenho, comprovada pelos sucessos que se vão dando e por algum raro exemplar de portuguez que cá me chega ou de quem me fallam.

 

(...)

 

Desculpe esta enfadonha carta. Consta-me que em Portugal abrem de quando em quando as cartas, como medida de ordem publica. N'esta, se a abrirem, nada se encontrará, penso, que possa incommodal-o. É a opinião unica e exclusiva de um sujeito que vive em quasi miseria, mas que em compensação pode fallar como quizer, pois nada depende de monarchicos, nem de republicanos, nem de socialistas, nem de pessoa alguma, pois come o arroz das suas magras economias e mais nada."

 

Excerto de uma carta endereçada ao coronel de cavalaria e seu cunhado José Gonçalves Paúl, (datas desconhecidas), marido de sua irmã Francisca Adriana Palmira (datas desconhecidas), enviada de Tokushima e datada de 26 de Março de 1915.

 

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Viseu em 1915 (V)

blogdaruanove, 20.02.09

Vizeu      Cava de Viriato

Bilhete postal do início do século XX.

Edição da Tabacaria Costa - Viseu. 

 

"Vizeu tem direito a ser uma terra de turismo, e estou convencido de que o será, desde que se torne conhecida. Já é regularmente servida de comboios, tem um Hotel que nada deixa a desejar, e oferece á curiosidade do forasteiro, para o entreter durante horas, lindos aspectos da natureza, e raros objectos d'Arte.

Vamos de corrida a Fontello, onde ha uma opulenta mata de castanheiros, e um trecho de jardim, que para ser encantador não precisa senão de alguns cuidados inteligentes, entregue a quem tenha pelas flores o culto que elas merecem. E ainda de corrida vamos de romagem á Cava do Viriato, um legendario barbaças que fez proezas na Beira, ha muitos seculos, ainda o Cristo não era nascido, e bivacou aqui, dizem as cronicas, sempre vencedor contra os romanos, que o fizeram matar á traição, peitando homens da sua entourage. Hoje a Cava, de forma polygonal, é propriedade de varias gentes, uma especie de grande horta com moradias, cheia de milho, feijão, couves... e tradições. Subsistem tres lados apenas do octogono primitivo, um deles convertido em larga Avenida, cheia de sombra, [sic] que as árvores d'um lado e outro, muito altas e muito frondosas, tocam se [sic] formando abobada."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

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Viseu em 1915 (IV)

blogdaruanove, 19.02.09

Vizeu      Asilo de Mendicidade Viscondessa de S. Caetano

Bilhete postal do início do século XX.

Edição da Tabacaria Costa - Viseu. 

 

"Não me dispenso de vêr a Malakof, anexo do Hotel Mabilia, onde passei os meus primeiros dias, onde dormi as minhas primeiras noites de Vizeu. Era de correr a janela do meu quarto, e d'uma vez, tendo corrido de mais, caiu em cima d'um [sic] rapariga que estava sentada cá em baixo, na rua, fazendo-lhe uma brecha na cabeça... Estou a ver, como n'um cinema, a minha fita de Vizeu, e se não sinto grandes saudades do tempo que aqui passei [desterrado durante a Monarquia], um ano, tambem não recordo com amargura este periodo da minha vida.

Vão passados tantos anos!

Dos meus companheiros do Gremio já morreram todos ou quasi todos que tinham filhos casadoiros no tempo em que aqui estive, e a muitos me prendiam estreitos laços de estima.

Se ainda viverá a Batatinha?

Era uma costureirita morena, d'olhos pretos, as faces sempre rosadas, a boca bem talhada, circumscripta por uns labios carnosos, que apetecia morder. Ficava-lhe admiravelmente uma penugem que lhe sombreava o labio superior, e tinha-se a impressão, apalpando-os com os olhos, de que os seus peitos, como os da Sulamita, eram cabritinhos montezes, saltando n'um campo de assucenas, o focinho vermelho como pingos de carmim."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

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Viseu em 1915 (III)

blogdaruanove, 18.02.09

VISEU – PORTUGAL   Vista geral da cidade   Vue Générale de la ville

Bilhete postal circulado de Viseu para Oeiras, em Agosto de 1931.

Edição da Comissão de Iniciativa e Turismo. 

 

"Excelente a cozinha do Hotel, mesmo levando em conta que a fome é o melhor aperitivo, além de ser um tempêro de primeira ordem. Servem-nos vinhos da região, tintos e brancos, dando eu preferencia ao branco, de Vila Meã – talvez por ter visto plantar a vinha respectiva, andava o dr. Pedro dos Santos nos seus primeiros ensaios de lavrador.

No Casino, de fundação recente, um sexteto de meninas francesas entretem os serões de quem gosta de musica, estando no á vontade das casas onde se paga o que se consome. No meu tempo, ha vinte anos, as noites quentes passavam se no Rocio, onde ás quintas e domingos tocava a banda regimental, e as noites frias passávam se no Gremio, a conversarem uns, a jogarem outros, salvo quando havia espectaculo no elegante teatrinho da Casa."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

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Viseu em 1915 (II)

blogdaruanove, 17.02.09

Vizeu      Hotel Portugal

Bilhete postal do início do século XX.

Edição da Tabacaria Costa - Viseu. 

 

"Amigos dedicados, que são ao mesmo tempo correligionarios prestimosos, esperam-me na Estação e levam me para o Grande Hotel, num bairro novo da cidade.

Manuel Casimiro, o glorioso artista tauromaquico, tendo passado a mocidade a lidar touros, resolveu passar a velhice a tratar hospedes. Talvez não seja mais lucrativo, mas é com certeza menos perigoso, embora certos hospedes sejam más rezes, sem alusão grosseiraás virtudes conjugaes. Um fidalgo, lembrou-se de construir uma bela casa para Hotel, e logo Manuel Casimiro se meteu a hoteleiro, desembaraçado e solerte como ha trinta anos atraz.

Muita gente, ao que por ahi se diz, não visita a Provincia porque ela, duma fórma geral, não  lhe oferece os indispensaveis comodos de alojamento, para alguns dias ou para algumas horas. Os hoteis, fóra de Lisboa e Porto, são por via de regra maus, alguns são positivamente horríveis, estalagens em que tudo falta – a não ser o pecevejo no verão, e a pulga em todas as estações.

Pois Vizeu tem hoje um magnifico hotel, o Grande Hotel, em que o touriste encontra tudo quanto lhe é permitido desejar fóra de sua casa – se é que em sua casa tem o conforto das instalações modernas, que servem de casulo á burguezia dinheirosa. Quartos amplos, de janelas bem rasgadas, uma mobilia singela, de fabricação local, graciosa e leve, e os leitos á vontade do freguez, quanto ao colchão, sendo preferiveis os de arame, para gente casada, por causa do resalto, que é uma força a aproveitar."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

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Viseu em 1915 (I)

blogdaruanove, 16.02.09

Vizeu      Vista Parcial

Bilhete postal do início do século XX.

Edição da Tabacaria Costa - Viseu.

 

"Paisagem conhecida, a que vou observando, mas apezar d'isso interessante, porque o acidentado do terreno, interrompendo a cada passo o scenario, é como uma fita cinematografica desenrolando-se em plena luz. Muitos pinheiros nas encostas, placas de milho nos vales, arvores de fructo por toda a parte, e as cegonhas molhando o bico em fontes toscas, ou pegos minusculos que forma o rio, para fornecerem agua de rega. Recorta-se no horisonte, á esquerda, o Caramulo, de pincaros atrevidos, e vê-se á direita o macisso da Serra da Estrela, em que o Jorge Nunes, afincando a vista, quer por força vêr neve. Na maior parte das estações o movimento é zero, não entram nem saem passageiros, não se carregam nem se descarregam mercadorias, e não me lembro de ter visto nas estradas poeirentas, em muito bom estado de conservação, rodarem carros ou automoveis.

Lentamente se arrasta o comboio, mas como se vai arrastando sempre, acabará por chegar ao destino.

E assim foi que tendo deixado Lisboa pela manhã, ás quatro horas da tarde chegamos a Vizeu, com um calor de rachar."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

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Chaves em 1915 (V)

blogdaruanove, 13.02.09

 

9 – Portugal – Chaves – Largo Rui e Garcia Lopes e Rua da Ponte

Bilhete postal da década de 1920.

Edição da "Sociedade de Defeza e Propaganda de Chaves". Cliché da Fotografia Alves – Chaves.

 

"O dr. Antonio Granjo, que vamos procurar ao seu escritorio, mete-se no automovel comnosco, e aqui vamos, de alegre cavaqueira, a caminho de Verin, mal tendo reparado na ponte de cantaria, obra romana do começo da era cristã, que atravessa o Tamega, ligando os dois bairros da vila, uma soberba ponte de muitos arcos, uns dezoito, votada á gloria do imperador Vespasiano."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

11 – Portugal – Chaves – Aspecto Parcial da Cidade

Bilhete postal do final da década de 1920 (Chaves foi elevada a cidade em 1929).

Edição da "Sociedade de Defeza e Propaganda de Chaves". Cliché da Fotografia Alves – Chaves.

 

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Chaves em 1915 (IV)

blogdaruanove, 12.02.09

7 – CHAVES   Nascentes das Águas Termais

Postal editado pela Casa Geraldes em data desconhecida (depois de 1934; provavelmente na década de 1940), com cliché da Foto Alves.

 

"Entrei nesse fantastico estabelecimento balnear, e fiquei horrorisado de tanta mizeria, tanta porcaria, os doentes para ali estendidos, homens e mulheres, numa promiscuidade biblica, muitos d'eles agravando os seus padecimentos, porque o uso da agua lhes está contra indicado. Cada qual come o que traz ou compra na Vila, e paga um pataco de fogão, diz-nos a cosinheira da casa.

 

Apraz-me acreditar que este miseravel estado de coisas durará só até que aqui chegue o comboio, e que Chaves, aproveitando inteligentemente as suas ricas aguas, se tornará grande e prospera, uma das mais frequentadas Estancias de Portugal, com numerosa clientela de estrangeiros, que a preferirão a tantas outras que hoje são rendez-vous obrigado dos ricos, que necessitam de hidroterapia."

 

in Brito Camacho (1862-1934), Jornadas (1927).

 

Vista nocturna, parcial, das actuais instalações balneares e da sua envolvente.

 

Para informações sobre as Termas de Chaves, consulte http://www.termasdechaves.com/.

 

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