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Rua Onze . Blog

Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

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Aki ó-matsu Hito ó-mayowasu Momiji-kana!...

Literatura Colonial Portuguesa

blogdaruanove, 14.08.09

 

Mário Mota (1916-1981), Angola, Eu Quero Falar Contigo (1962).

 

Poeta e ensaísta, Mário Mota começou por publicar o conjunto de canções Traço-de-União e os poemas Retrato e Três Tábuas, de que se desconhecem as datas. Seguiram-se-lhes os volumes de poemas Dom Alentejo (1939), Os Troncos e as Raízes (1954), Gonga: Poemas de Angola (1962), Humanidade (1977), Poemas para Florbela d'Alma (1979) e Verdura:Poemas a Sintra (1979).

 

O presente volume anuncia a publicação do livro de poemas Dança Negra, da colectânea Vida Poética e do conjunto de contos Estrada de Catete, mas não se encontram registos da publicação dessas obras sob estes títulos. É muito provável, no entanto, que Dança Negra corresponda ao livro Gonga: Poemas de Angola, pois o subtítulo é comum.

 

Na senda do que já tinha sido feito por outros autores, durante as décadas de 1930 e 1940, na revista O Mundo Português, Mário Mota publicou também como separata da revista Gil Vicente o seu contributo para uma lista da literatura colonial, intitulado Uma Bibliografia de Literatura Ultramarina (1969).

 

Seguindo embora uma carreira na aeronáutica civil, o autor colaborou na imprensa e na rádio, particularmente em Angola. O seu poema mais conhecido, A Palavra, foi traduzido em várias línguas e incluído nas antologias Phalanstere de la Poesie (Bélgica) e International Anthology (Reino Unido).

 

Do presente volume transcrevem-se o poema O Menino e um excerto de um poema evocativo do escritor são-tomense Costa Alegre (1864-1890; cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/tag/costa+alegre):

 

O MENINO

 

   A preta lavadeira já é mãe

   e a sua primeira preocupação

   foi mostrar o seu menino preto

   ao patrão

   e à senhora do patrão...

 

   O seu homem veio também.

 

   Ela vestiu panos estampados, novos, era mãe,

   Ele trazia o menino ao colo, aconchegado.

 

   Vinham contentes, ela gesticulando.

 

   Por fim chegaram.

 

   E discutiram entre os dois qual o primeiro a falar.

 

   E sorriram para o seu menino preto.

   Abriu a porta  a senhora do patrão.

 

   E os dois apenas disseram:

 

   O menino!

 

   Estava feita a apresentação.

 

 

COSTA ALEGRE

 

   (...)

 

   O poeta era negro

   e tinha pena de ser negro

   este poeta negro de São Tomé!

 

   Mas só a sua pele luzidia

   era negra,

   escura,

   sombria como o negrume da noite.

   Tudo o mais se expandia

   e refulgia no poeta em grandeza

   numa indiferença pela cor

 

   (...)

 

   Que tinha que fosse negra a sua cor

   e luzidia  sua pele?

 

   Não era a sua poesia de frescor

   não era cristalina a sua ansiedade?

 

   Porque odiaria o poeta a sua cor?

 

   Que tem que ver a cor

   de cada um

   se é igualmente humano

   o seu amor

   e igual a mesma dor

   seja qual for a cor?

 

   (...)

 

 

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Mosteiro da Batalha

blogdaruanove, 14.08.09

Gravura inglesa publicada em 1838.

 

"Comecei a divisar por entre os álamos da estrada as agulhas da 'Batalha' ao cair da tarde [de Julho], já quando o sol arrefecido pouco mais era do que uma braza a extinguir-se em ténue poeira de cinzas avermelhadas. Pouco depois, alumiado por esta claridade prestigiosa, que lhe deixava a base envolta em fulvas penumbras, levantava-se o monumento no mais encantador dos seus aspectos, sôltas pelas abóbadas, presas nos cardos dos espigões, cingidas às arestas dos muros, as rendas de pedra que o enfeitam. A luz do sol poente inflamava essas rendas, recortando lhes [sic] os desenhos em fundos esmaltados: matiz de ouro sôbre ouro, frágeis relevos preciosos, subtilizados por mudanças sucessivas de efeitos fulgurantes...

 

Não me puz a desembainhar estoques de crítico para retalhar convenientemente a sensação recebida: contemplei emquanto [sic] durou o crepúsculo e depois sopeei a impaciência na leitura dos 'Lusíadas', esperando a hora em que, alta já a lua, o sacristão iria mostrar-me os claustros.

 

Levantou-se a lua pelas transparências esverdeadas do horizonte que parecia recuar lentamente, já cêrca da meia noite, no absoluto silêncio onde tudo caíra em redor do povoado. Aguardara a aparição da luz fantasmática no alto de uma colina que melhor vista dá sôbre o monumento: sombra mossiça [sic] ouriçada de sombras agudas, tomando à claridade incerta das estrêlas relevos de um instante, logo absorvidos por outras sombras mais vagas. O luar bafejou o grande corocheu de poeira alvacenta, como o primeiro, frio reflexo da aurora, mas prontamente se fêz opalino e mais penetrante, insinuando-se nos lavores das agulhas, dos lírios de pedra que ameiam as cornijas, nas teias de frisos que arripiam a superfície das paredes e mergulhando, por fim, na tinta opaca em que se condensava o interior dos claustros, libertou das trevas tôda aquela maravilha e como que a refundiu em espumas de prata fina...

 

Em noites tais a vista não se detem na rude forma natural das coisas, mas passa-as à alma que as transfigura e, luar ainda mais doce, mais fecundo, mais íntimo, as devolve, repassadas de poesia, puras subjectivações, enlevo de imaginação, orgulho do pensamento..."

 

in Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), Cartas sem Moral Nenhuma (1904; 3.ª edição, 1934, pp. 124-126).

 

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A Dança Judenga (XL)

blogdaruanove, 14.08.09

 

 

   Das brenhas rompem violetas,

   Madre-silva dos cerrados,

   E vibram odes selectas,

   Com seus plectros marchetados,

   Bandos de grandes poetas!

 

Raimundo António de Bulhão Pato (1829-1912), A Dança Judenga (1901).

 

 

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