Autógrafos - Baptista-Bastos
Baptista-Bastos (Armando Baptista-Bastos, n. 1934), Um Homem Parado no Inverno (1991).
Romance sobre a ausência e a incerteza, Um Homem Parado no Inverno retrata a reacção de uma personagem à morte da companheira de longa data, narrando as suas deslocações constantes entre Lisboa e uma pequena aldeia costeira.
Esta vivência pessoal do protagonista, Manuel, desenvolve-se num tempo de transição, que evoca o passado do Estado Novo, através do patriarca de uma família fidalga e abastada, os Magalhães, de quem Manuel é íntimo, e exemplifica a perplexidade perante o presente, o final dos anos oitenta, através dos numerosos descendentes do patriarca e da sua família disfuncional.
Este aspecto disfuncional da família e da própria personagem principal reflecte-se no discurso narrativo, o qual alterna entre um modelo tradicional e um modelo fragmentado que se torna contínuo através da ausência de pontuação.
Para uma pequena nota sobre outra obra de Baptista-Bastos, consulte: http://blogdaruanove.blogs.sapo.pt/221979.html. De Um Homem Parado no Inverno transcreve-se um pequeno parágrafo:
"Foi sabendo do holandês: esparsas notícias. A vida, na capital, complicara-se-lhe, o negócio de antiguidades não ia bem porque, nessa época, submetido a emoções de posse, apaixonava-se por objectos de que se não desfazia, embora encontrasse compradores interessados. Só muito espaçadamente ia à aldeia. As suas relações com os vizinhos e amigos eram então passageiras: pagava o que tinha a pagar, cumpria os rituais das cortesias, regressava a Lisboa ao anoitecer. Durante muito tempo fora indulgente para com as afectadas capacidades de preconizar, por quase todos os Magalhães manifestadas, antes de descobrir que eles não amavam as ideias. Não sou mais do que um velho adolescente, pensara, a quem foi revelado que esta gente é cheia de má-consciência e habitada pela mentira."
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