Antunes da Silva (1921-1997), Canções do Vento (1957).
Essencialmente consagrado como prosador, Antunes da Silva (cf. http://blogdaruaonze.blogs.sapo.pt/15899.html) desenvolveu também uma obra lírica no contexto do movimento neo-realista. Publicou em 1952 Esta Terra que é Nossa: Poemas e quarenta anos depois Breve Antologia Poética. De permeio, saíu esta separata do Cancioneiro Geral, intitulada Canções do Vento.
Deste volume transcreve-se um breve poema sem qualquer conotação neo-realista, Primavera, e um outro, Terceira Cantiga, claramente ligado à contestação social e política característica desse movimento literário:
PRIMAVERA
A Primavera nasceu
Enfeitada pelo sono das plantas
E o sussurro das fontes,
Onde as abelhas foram flores
A poisarem nas estrelas dos horizontes.
Oiço a Primavera no vento,
Entre azinhagas e montes.
TERCEIRA CANTIGA
Ao Alves Redol
Passei no Tejo à noitinha
E vi o Tejo calado.
Trago um barco de papel
Para o deitar no mar salgado.
Quando o barco se romper,
Deito no Tejo uma estrela.
E a estrela branca lá fica
E nunca mais torno a vê-la...
Que nas águas deste rio
Parte gente pró degredo...
O povo vive e não morre,
Mesmo cercado de medo!
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